Rowan De Raven

Friday, March 14, 2003
 
12h08. Vamos falar sobre "segundas chances". Nós, lá de casa, ganhamos uma. Outro dia contei sobre o cachorrinho que parou na nossa porta, e não recolhemos. Pois anteontem a Tatiana trouxe pra casa uma cadelinha que seria atropelada. Vira-latinha de tudo, marronzinha de pêlo duro. Muuuito simpática! Com alguma boa vontade até conseguimos enxergar algum parentesco com um daschund ("cofap"). Filhotinha, tem cerca de 45 dias. Não sei se vamos ficar com ela, a princípio vamos procurar alguém muito legal que a adote. Mas uma coisa é certa, de uma vida cruel na rua essa bichinha escapou :-)


Thursday, March 13, 2003
 
11h22... hoje eu tenho um tempinho para escrever sobre o meu mundo. Vamos lá? Aromas, sons, sabores. Cores, muitas cores, muito azul, muito rosa e lilás, muito verde mata, e dourado, flores, flores e mais flores. Animais dóceis, livres, de pêlo macio. Sons de água corrente, ondas de um mar esmeralda, cachoeiras cristalinas e geladas. Pássaros, harpas e vozes angelicais. Nomes sonoros como Noah e Sian. E nós fomos excluídos, castigados. Será alguma réstia de lembrança - ou culpa - sobre a expulsão do Paraíso?! Expulsos, nos reconhecemos uns aos outros pelas almas atormentadas, perdidas, espalhadas pelo mundo, solitárias. Condenados. Valinor, Atlantis e Lemuria, Avalon... memórias desse mundo. Tolkien e Marion Zimmer Bradley vieram de lá e, felizardos, já conseguiram voltar. Nós, os outros excluídos, nos aproximamos por uma mesma fome de beleza, de liberdade, de paz entre as criaturas. Nos identificamos pela melancolia, pelas saudades de um não sei o quê... tudo aqui, neste outro lugar, é errado, como um pesadelo constante em que sabemos que nada é real porque as peças não se encaixam. Nos reconhecemos, nos aproximamos. Se não há respostas, que isso - a aproximação dos excluídos - nos sirva de consolo. Até que tenhamos pago o preço (por que???) e possamos regressar. Não é outro planeta, não espero ser "resgatada por ETs", é mais como outra dimensão, outra energia, outra sintonia, outra existência. Mas se este mundo só existe dentro do nós, terminaremos todos loucos. É o que eu disse outro dia, preciso voltar para casa.


Wednesday, March 12, 2003
 
14h50... estou deprê, está chovendo, comi trash food, passei mal à noite (insônia, angústias, mal pressentimentos, pesadelos, frio, calor, dores)... estranho, quando comecei a tomar o Prozac estava no fundo do poço, só conseguia pensar em morrer, então melhorei, melhorei muito. Os problemas mudaram de cara, ou eu mudei a maneira de encará-los. Agora, quase dois meses tomando o remédio, parece que estou ficando maus de novo. Não que os problemas tenham voltado a soar como tempestades, mas eu estou descobrindo que realmente alguns aspectos meus não vão mudar, não tenho como me adaptar às situações com as quais não me identifico. Meu emprego é o primeiro problema da lista. Não é a empresa em si, apesar d’eu não concordar com muita coisa, é o trabalho. Eu ODEIO esse trabalho, essa inutilidade toda. Passar a semana passada em casa foi bom, mas foi péssimo. Voltar pro escritório foi como podar as minhas asas de novo, prender os grilhões nos pés. Horrível, horrível. I just don’t belong this f* place!!!... bom, perguntei se o Prozac é aquele tipo de droga que a dosagem precisa ser aumentada de tempos em tempos, me garantiram que não. O Prozac fez a parte dele então, me botou nos eixos, mas quem tem que acertar o caminho sou eu. Eu precisava tanto agüentar mais esse ano, fazer uma reservinha financeira... eu estou indo, vou agüentando, mas a cada dia que passa eu sinto que suporto menos. E depois, resolvendo esse primeiro item da lista, ainda vou ter tanta coisa pra botar em ordem na minha vida...

15h58... preciso continuar traduzindo o maldito relatório (por que me obrigaram a estudar inglês?!)... parei quase 1 hora para conversar com a Lari por telefone, ok, ela é cliente mesmo... agora vou finalizar o relatório, depois volto aqui pra falar do “meu mundo”...

18h20... a chuva parou e o entardecer está lindo! Queria falar do meu mundo mas vai ter que ficar para amanhã. De qualquer forma, para antecipar o assunto, seguem aqui alguns links para trabalhos do artista plástico Gilbert Williams. Ele tem uma incrível capacidade de desenhar o mundo que existe na minha cabeça. Atenção para uma gravura de nome “The Gathering”. Tenho ela no meu quarto (essa e mais duas dele), mas antes mesmo que conhecê-la, eu já sonhava com uma cena exatamente igual àquela, naquele lugar... meu mundo!!!

http://www.gilbertwilliams.com/
http://iasos.com/artists/gilwilms/
http://www.crystalclear.org.uk/cards.htm
http://www.hpo.net/users/spiritus/order_matted.htm
http://www.lazaris.com/ws/mattedart/magwfull.htm



Monday, March 10, 2003
 
10/03/03 (15h56)
Voltei. Que inferno! Depois de várias noites bem dormidas e dias de quase paz, voltei a dormir mal, a sonhar com meu (MALDITO) trabalho. Sonhar, não! “Pesadelar”!!! Não, definitivamente não quero levar essa vida por muito mais tempo. Como eu descobri (Prozac + menos problemas financeiros + anos de terapia) loucas são as pessoas que aceitam a rotina, esse vida sem sentido, o viver em função de fins de semana em que nada acontece. Eu estou acordando, estou cada dia mais lúcida. Mas, como eu falei na sessão de análise sábado passado, não são os loucos que se suicidam, são os lúcidos, aqueles que acordam para a vida e percebem que não “se encaixam”, aqueles que descobrem que o mundo é muito maior, que a vida é muito mais, mas não sabem como começar a viver, como contrariar o sistema. Tive dias de sol em casa, fiquei na piscina, li, brinquei com meus pets, cuidei das minhas plantas, fui ao cinema... quase livre, quase livre! É complicado voltar aos grilhões, a esse cubículo sufocante, depois de ter respirado – e pensado – por alguns dias... quase impossível! Vou ter que me “re-doutrinar”, preciso agüentar mais algum tempo, juntar mais um dinheirinho...

Bom, deixa eu fazer um resumo de bobagens e loucuras sobre meus dias de paz...

07/03/03
Fiz mais dois furos nas orelhas. Agora tenho três na esquerda e dois na direita. Ainda penso em colocar um brilhantinho no nariz, e fazer uma tatuagem... mas preciso me convencer que a dor vai ser suportável e valer mesmo a pena.

05/03/03
As pessoas precisam aprender a enxergar Deus em Sua criação! Hoje um cachorrinho preto, magricelo e sarnento, ficou parado na porta da minha casa querendo entrar. Com tantas casas na rua, casas que também têm cães, por que eles escolhem sempre a minha porta? Não pude fazer nada por ele – ou pensei que não poderia, não sei, talvez pudesse ter levado pro abrigo, não sei mesmo. Como uma vizinha deu água e comida, nós não fizemos nada além de olhar e rezar por ele. O bichinho sumiu de lá no mesmo dia, quero me convencer que alguém da rua colocou ele pra dentro, isso já aconteceu antes. Mas fiquei com uma sensação ruim, de tristeza, de ter falhado, como se não acolher o cão fosse bater a porta na cara de Deus. Acho que estou ficando mais religiosa com a idade. No fim da tarde ventou muito, demais, e uma das nossas arvores do quintal, a primavera púrpura, tombou. Me deu mais certeza de que Deus queria que eu tivesse feito algo por aquele cão. Mas como Deus espera que eu salve a todos???!!! Se Ele me mostrar como, eu faço!

04/03/03
Quero ir para Atlântida! Quero voltar pra casa!!! Ok, sei que soa como loucura, mas acordei com isso na cabeça, e imagens, e cheiros, e músicas, e palavras sem tradução... a única coisa que fazia sentido na minha cabeça era: busque Atlantis... eu vou buscar. Quem sabe eu encontro? O pior que pode acontecer é eu não encontrar nada e continuar assim, perdida num mundo que não faz sentido, sem perguntas e sem respostas...