Rowan De Raven

Saturday, August 21, 2004
 
01h16. Não tô bem, nada bem... queria sair por aí, gritando na rua, chorando alto, perturbando as pessoas como estou me sentindo perturbada... é um pensamento egoísta, eu sei, mas estou agoniada demais pra sofrer sozinha... Vovó está no hospital, e dessa vez parece que pode ser "de vez", até o fim... Não quero pensar nisso, NÃO QUERO! Mas não consigo pensar em outro coisa. Tentei ler, ouvir música, ver TV - estava passando "Em Algum Lugar do Passado", um dos meus preferidos mas que assisti pela primeira vez na casa da vó - e não estou conseguindo me concentrar, ficar parada. Mal me conectei aqui e já estou impaciente pra escrever logo e desconectar... Não quero palavras de conforto, elas nem existem, queria alguém que chorasse comigo. Deus, nessas horas que eu vejo como sou - aliás como todos somos - assustadoramente sozinha no mundo! Eu sei que ninguém vai chorar as minhas dores, mas ninguém está ao meu lado nem pra ouvir o meu choro...

... e nem chorar eu estou conseguindo...


Friday, August 20, 2004
 
01h52. Agora o "assunto sério" do dia. Fui convidada por outro estúdio de cinema (ou como chamamos no meio, "distribuidora de filmes") para trabalhar com eles, e seria o terceiro grande estúdio a entrar no meu 'resumé'... na verdade, eles vêm tentando me levar pra lá já faz algum tempo. Vou almoçar com uma pessoa na semana que vem, pra ouvir a proposta financeira, mas já tenho minha resposta: NÃO! Não quero voltar pro esquema, não posso. Quantas vezes já fiz isso, já me vendi?! E em qual dessas vezes o resultado foi positivo?! None!!!!!! Eu me arrependo de todos os "nãos" que não disse. Não. Não. Não. Dessa vez preciso ser corajosa e continuar lutando pela minha liberdade... que os Deuses - e minha Deusa Ceridwen - não me permitam fraquejar! Assim seja, e assim se faça!


 
01h43. Outro dia pensei em deletar o blog, copiar alguns posts em word e tirar o "Rowan DeRaven" do ar. Mas pensei, então, porque ainda escrevo nele... é bom saber que este espaço público/secreto está aqui para qualquer coisa que eu queira jogar em palavras (já que não faço mais diários em papel, como os que fiz durante uns 15 anos). Às vezes os pensamentos precisam virar palavras. Acho que escrevo para mim mesma, então. Reler posts antigos é bom pra me conscientizar sobre "changed minds", sobre coisas que perderam - ou ganharam - importância, e melhor ainda pra me lembrar algumas situações pelas quais não quero mais passar...
Então, vou continuar escrevendo... mesmo porque, também, a Dani ainda lê ;-)


Wednesday, August 18, 2004
 
01h25. Agora vamos aos fatos do dia. Tive um pesadelo mutcho lôco noite passada, com uma igreja bastante sinistra, nem quero entrar em detalhes pra não lembrar muito. Mas queria contar uma parte do sonho. Nele, N.Sra. da Glória me apareceu dizendo que eu devia passar mensagens dela às pessoas. E a mensagem era "Cada um com o que lhe pertence, e tudo em seu devido lugar". O que isso quer dizer? Por que N.Sra. da Glória? E por que EU???!!! Quer saber? Acordei assustada e passei o dia me sentindo estranha...

Outra coisa. Dei mais um passo para implantar o que agora vai ser a palavra de ordem na minha vida: QUALIDADE. Me consultei com uma nutricionista. A partir de agora vou ter alguém me ensinando a comer direito. Como ela mesma disse, minha saúde será prioridade, perda de peso virá como conseqüencia. Bom, muito bom. E, segundo ela, até minha pele e meu cabelo vão ficar mais bonitos :-)

Como eu sempre disse, ninguém faz pela gente o que só nós podemos fazer! Já me "maltratei" demais!!!


 
00h29... abaixo trechos de "Lilith", uma fantasia erótica de Alina Reyes que estou lendo... enjoy it!

“A vida: andar de bêbado rumo ao abandono. Nasce-se sendo arrancado de um corpo, incorporando-se o máximo tempo possível mãe, família, meio, até que pouco a pouco tudo muda de leito, os laços se distendem, fendas se abrem, ou melhor precipícios, a ponto de ser preciso, para não se ir à deriva, encontrar outros laços, e mudá-los assim que usados, experimentando trabalho, pois quanto mais a ilha do seu ser é atraída pelo mar aberto, mais rapidamente se usam os laços que o retêm aos outros, à embarcação, quanto mais se fica dividido entre o apelo e as distrações do porto, mais a sua vida passa surpreendente e estafante. E de qualquer modo irremediavelmente se acaba à deriva solitária, cada vez mais solitária, rumo ao abandono final, total, definitivo.”

“Se eu dormisse, se eu tivesse necessidade de mim, meus sonhos viriam em meu socorro?”

“Nós nascemos infelizes. Em famílias de infelizes. Nós vivemos infelizes, geramos infelizes, morremos infelizes. Por ter perpetuado a infelicidade.”

“O que podemos nós, miseráveis seres humanos, fazer para retardar ao máximo a degradação do nosso corpo? – pensou Lilith. Somente viver o menos possível: não correr riscos, não comer, não beber, não fumar, não se drogar, não misturar levianamente o seu corpo aos dos outros, sempre um possível contaminante, não se opor aos poderes constituídos – e assim se expor a todos os tipos de golpes – não tomar sol, não sorrir – e assim aprofundar as rugas – não ficar sem sono, não se entregar a nenhum tipo de alegria profunda, em nada exercer sua liberdade. Top model, uma vida modelo.”

“Toda a minha vida tive vontade de entrar na vida. De estar sem cessar, sempre, de novo, entrando na vida. De me manter numa espécie de fim de adolescência perpétuo, num entremeio onde o passado permanecesse sem importância, o futuro fosse incerto e o presente, por causa disso, precioso. Toda a minha vida fui leviana, renunciadora, descobridora. Renunciando também a mim mesma, qual a importância? Minha antiga carne, meu rosto antigo, não os lamento. Só retenho, em mim, a vida. E a vida não gosta dos corpos que apodrecem de pé, nunca questionados. A vida foge dos corpos inelutáveis como foge dos seus espíritos resignados.”

“... eu gostaria de começar tudo de novo, bem do início, me deslocar na vida como uma pluma ao vento, viver de nadas... Livre. Aquilo que você possui, também possui você – diziam na minha infância. Todos esqueceram disso, mas eu não.”

“Eis a opção: andar em direção à luz ou andar em direção ao breu. Fé, arrependimentos, contentamento: os caminhos do breu. Ardor, dúvida, pensamento, exasperação voluntária dos sentimentos, automutilação, libertação dos sonhos, mudança: os caminhos da luz.”

“O que é o um homem sem consciência? Um animal como outro qualquer”... “Deus fez o animal humano tão inocente quanto um tigre ou uma aranha, mas foi o Diabo quem criou o homem, consciente de si e do mundo que o cerca, do bem e do mal, o homem metafísico capaz de angústia existencial, de traição e de gênio, o homem que sabe ver seu corpo nu, e sua obscenidade, a estranheza para sempre obscena do azar e da necessidade que dirigem toda a vida, toda inelutável, luminosa e cega vida”... “Deus é um animal? Ou Deus é o Diabo?”