Rowan De Raven

Thursday, September 09, 2004
 
01h22... ontem, só pra variar, quebrei o maior pau com a minha mãe... ridículas ambas, ela por me tratar como criança (e/ou retardada), e eu por - aos 33 anos de idade - ainda permitir isso! Ela vai acabar enlouquecendo todo mundo aqui em casa, está cada dia mais insuportável! Ainda pior agora, com essa situação da minha avó, porque acha que só ela está sofrendo. Esse papel de "coitadinha" que ela assume nessas horas me irrita profundamente, me tira do sério. Como lidar com pais que são mais infantis do que nós?!

Bom, depois da discussão eu fiquei horas com o Marco no telefone. Ele queria vir me buscar, mas achei melhor não criar mais caso. O Marco quer que eu vá morar com ele. Disse até pra eu levar meus gatos. É, vou mudar eu e quatro gatos porquíssimos e neuróticos pr'aquele apartamento 'clean' que ele tem... Mas, falando sério, não é só isso. Não me vejo morando com alguém, nem mesmo tendo um(a) roommate quando mais viver mesmo com um namorado (or whatever). O Murilo também achava que nossos problemas iam se resolver se eu fosse morar com ele. Nunca vou saber. O Marcelo queria casar, de papel passado e igreja... Nossa, acho que tenho mesmo um tipo de kharma com a letra "M"... tinha esquecido isso... Ah, sim, e com a letra "R" também, claro, Reinaldo, Rodrigo, Raphael... talvez esteja na hora d'eu sondar outras letras do alfabeto...

Bom, sei que depois da briga de ontem, eu quase resolvi aceitar o convite dele. Mas o que ia ser isso? Fuga? Picuinha? Não, não pode ser assim. Se um dia eu ficar com alguém - se conseguir enfrentar minhas nóias a esse ponto - tem que ser pelas razões certas. Já fiz merda demais na minha vida.

These are my news... nothing really "new"... Vovó continua internada, piora nuns dias, melhora nos outros, nada pode ser previsto (os médicos estão 'barata-tonteando', não sabem o que dizer, o que fazer), o clima aqui em casa continua pesadíssimo (aliás o clima na família, agora que a Tê teve outro infarte e também está no hospital).

E eu continuo sem saber o que fazer a respeito do Marco Antonio... a Anne acha que tenho, sim, preconceitos em relação a ele, a Ná acha que eu não quero admitir mas que também estou levando a sério. Talvez seja verdade, mas pelas razões erradas. Eu só queria, eu mesma, achar alguma coisa. Estou fazendo o possível para não magoá-lo, ele não merece (again: o desinfeliz tinha que ser tão fofo?!), mas nem sei mais o que pensar... acho que não vou pensar, novamente adotando a filosofia "Scarlett O'Hara" que usei tantas vezes na minha vida - não vou pensar nisso agora, pois "tomorrow is another day".

That's it. Right?!


Monday, September 06, 2004
 
01h40... agora quero conversar um pouco... só divagar...

Os momentos que tenho passado com o Marco, principalmente as noites, estão se tornando irritantemente importantes pra mim. Estou preocupada. Acho que posso me apaixonar de verdade por ele. Isso seria lindo, 'TuDeBom', se não fosse o "background" dele. Não é preconceito, não mesmo, se fosse eu nem teria começado essa história. É medo. Ele também está com medo, mas está muito mais disposto a se envolver do que eu, declaradamente. Claro que descobrir que ele nunca foi 100% gay mudou um pouco minha maneira de ver a situação, mas a frase da Lari "não existe ex-gay" também não sai da minha cabeça... Acho que a gente precisa - que merda concluir isso sobre mim! - rotular as pessoas e as situações de vez em quando pra saber como lidar com elas. Se ele não é gay, ou pelo menos não totalmente, e isso está evidente pra mim agora, é o que então?!

Tá, sei que ele está mais confuso do que eu, ele demonstra isso - aliás, ele demonstra tudo que sente, que pensa, mal sei lidar com uma pessoa assim. Eu sempre fui meio assim, mas nunca me vi refletida num parceiro dessa forma, isso assusta também. Usar máscaras, artifícios, meias palavras, entrelinhas, é o que a gente aprende a fazer a vida inteira, não é?! Como viver com tudo às claras?!

Bom, o que está acontecendo é o seguinte, ele quer levar a sério. Eu não entrei nessa história pra levar a sério, pra ter um "namorado". Não mesmo. Confissão horrenda: foi por curiosidade. Ele é lindo, é um fofo, e eu queria saber se seria capaz de transar com um gay - ou melhor, de fazer um gay se interessar por mim, queria saber como era... Queria também algo novo na minha vida, algo pra me distrair nesse momento ruim que estamos passando com a vó, queria ter uma coisa "fun" pra pensar em vez de ficar lembrando o tempo todo que ainda estou desempregada e o dinheiro da conta está indo embora como água. Foi egoísmo, eu sei. E eu estou sendo cruel também. Mas não achei, oh céus, juro que não achei nem por um momento que ia dar em alguma coisa...

E agora ele quer levar a sério. Está agindo como um adolescente apaixonado, com direito a crises de ciúmes (entrou no Orkut por isso, pra me "vigiar") e todo o pacote. E o que é pior, acha que a minha relutância em cair de cabeça é sim preconceito meu sobre o passado dele. Olha, quer saber? Tudo confuso demais, não era confusão que eu estava procurando... Como eu faço ele entender que o problema sou EU e não ELE?!

Agora, pra fechar isso aqui (porque eu tenho que tentar dormir, estarei no hospital às 8h30 pra ficar com a vó) um momento totalmente "shallow" da minha parte: SE AO MENOS ELE NÃO FOSSE TÃO BONITO!!!

Nevermind... vou precisar de meio dalmadorm hoje...


 
01h34... nunca fui fã de Pablo Neruda. Primeiro porque não nunca me interessei em conhecer bem o trabalho dele, segundo porque achei o filme "O Carteiro e o Poeta" um saco! Mas estou mudando de opinião sobre ele, como aliás tenho mudado em relação a várias outras coisas... ainda bem que somos assim, flexiveis... Então, aqui vão dois sonetos do Neruda que o Marco passou pra mim hoje, o XVII e o XXV da coleção "Cien Sonetos de Amor". To dream about!

(Soneto 17)
"No te amo como si fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles que propagan eñ fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño."

(Soneto 25)
"Antes de amarte, amor, nada era mío,
vacilé por las calles y las cosas,
nada contaba ni tenía nombre,
el mundo era del aire que esperaba.

Yo conocí salones cenicientos,
túneles habitados por la luna,
hangares crueles que se despedían,
preguntas que insistían en la arena.

Todo estaba vacío, muerto y mudo,
caído, abandonado y decaído,
todo era inalienablemente ajeno,

todo era de los otros y de nadie,
hasta que tu belleza y tu pobreza
llenaron el otoñó de regalos."